meia hora pra mudar

de repente um chuvisco na minha visão, fui perdendo os sentidos, perdendo…apaguei.
quando acordei estava no chão, com uma dor de cabeça grande, tentei levantar mas meu corpo não respondia bem aos meus pensamentos.
chamei e chamei por você, quando te vi me senti a salvo, segura e protegida.
fomos correndo ao hospital mas não sabia bem o que estava acontecendo, tudo passava lentamente pelos meus olhos. uma vontade de chorar, uma dor lá no fundo que eu não sabia qual era bem: cabeça, olhos, pensamentos. eu só queria apagar de novo e não voltar.
quando acordei estava sozinha, num quarto com mais algumas pessoas. aquela famosa borboletinha no braço, um caninho no nariz, e você? cadê você?
tantas pessoas estranhas alí mas eu só me perguntava onde você estava.
olhei pra porta e vi você chegando, meu coração se acalmou, mais uma vez me senti segura, mas ao olhar pros seus olhos te vi tão distante. não querendo estar ali.
sem nenhuma palavra pegou uma cadeira e sentou ao pé da cama. eu te olhava com os olhos cheios de lágrimas pedindo um pouco de atenção. você se mantia ali, parado, impenetrável.
com os pés me esforcei para te alcançar, fazer algum carinho, receber algum. mas nada.
a sala cheia de pessoas e tudo era tão sozinho, tão triste.
só queria um pouco da sua atenção, um chão seguro pra pisar, a certeza que amanhã você iria estar ali, nem que fosse pra eu me esforçar pra chegar até você, mas já era tarde demais.

tinha certeza que esse natal seria ótimo. em verdade, antes não acreditava nisso. mas por alguns fatos comecei a acreditar que poderia ter sido um bom natal.
mas não foi.
não adiantaram os presentes, a vontade de presentear a todos, nem que fosse com uma lembrancinha somente. mas nada disso adiantou. nem o jantar bacana, nem o almoço melhor ainda num bom restaurante da cidade.
nada fez desaparecer o que está aqui dentro. nada me fez não querer botar os fones nos ouvidos e ouvir aquela música que eu ouvi ao vivo outro dia no via funchal. um dia que estava bem melhor que hoje, mesmo sem presentes. mas nem assim adiantou.
o que será que tenho que traz tanta vontade de chorar, de solidão sem solidão… será que é um resquício da minha mãe que há em mim? será que sou eu? será que eu devia me virar sozinha um pouco e talvez assim tudo sumisse? nada de interrogações, nada de procurar preencher o espaço com coisas vazias…

ahhh…isso é só um desabafo, de algo que não sei o que é, mas que está preso em mim.

um bom natal e ano novo. e que o próximo seja melhor que esse.

disse aquilo pra te machucar. foi e não foi intencional, mas eu disse e sabia que ia doer. até em mim doeu, mas já havia doído antes. era apenas reflexo, era uma resposta de medo as suas palavras que me cortavam. nem senti. mas quando você me perguntou “fez isso pra me machucar?” e eu respirei, mas você sabe, não consigo mentir pra ti “sim”.

“eu sempre posso ser pior”
não é o que você diz?

queria pedir desculpa, remendar, imendar. a voz faltou. ouvi seu suspiro de um quase adeus. foi aí que fisgou, e foi puxando puxando até doer mais. desculpas não iriam adiantar.

tudo é apenas pra me defender do medo do passado que eu não fiz parte.