meia hora pra mudar


cambalhotas
April 14, 2010, 12:20 pm
Filed under: ego

Tem dia que a vida dá voltas
Tao longas como
Cambalhotas

A cada volta fecho os olhos
Com medo que o chão me coma
Ou somente que doa

Faz tempo
E quanto mais tempo
mais medo

Então os abro
A paisagem muda
Ou foi tanto tempo?

A imagem que se forma
Já não é mais a mesma
Mas ainda assim

Respiro fundo
Como se fosse a primeira
Volta



no fundo tenho medo
April 13, 2010, 4:25 pm
Filed under: deoutrem

No fundo, tenho medo. Medo de te voltar a ver. Medo de que as minhas mãos voltem a ser mãos outra vez e disparem dos pulsos para te despentear o cabelo e apertar-te os nós dos dedos, entalando-te as falanges como se fosses criança a quem cuidasse de atravessar a rua. Medo de que o meu corpo se lembre da fome que te teve e se queixe ruidosamente, como um estômago vazio; de que me dês água na boca e que de deserto árido passes a fonte de trevas com neptunos sumptuosos e fundos forrados a desejos. Medo de pensar que não te vejo desde ontem e de por isso não te rever, saudosa, antes achando que nunca nos fomos e que ainda nos damos as mãos, algures por Paris. Medo de, afinal, te ter esquecido em vão e de que nos encontremos de novo a meio de inocuidades gentis, amorosamente gentis; e de que tenhamos, inesperadamente, muito cuidado com os gestos, como se contornássemos vidros partidos ou fios descarnados. Medo de dar com os teus olhos e de neles mergulhar de cabeça, de engolir pirulitos, nadar-te e por ti ficar, num boiar infinito. No fundo, tenho medo de que a mera possibilidade da tua presença me diminua a graça dos dias. Por isso me quedo.

pego emprestado faz tempo